quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Sinopse:Laranja da china

Esta coletânea de breves narrativas oferece um retrato histórico e literário de uma metrópole em formação. São histórias que apresentam o cotidiano da São Paulo dos anos 20, com os conflitos vividos por personagens anônimos mas com nomes e apelidos de gente famosa. Carregando algumas características de seu homônimo, mas sem perder a dimensão de sua vida limitada e prosaica, Platão se tortura em questionamentos sobre que documento deve pedir em uma repartição, Washington comemora o dia da independência em um passeio com a família num carro emprestado da Secretaria em que trabalha e Robespierre esbraveja contra o preço da carne. "Laranja da China" é uma ficção que destila humor, mas emprega ironia e amargura em boa dose. Naturalidade, frases enxutas, oralidade reveladora, combinações que sustentam a literatura singular de Alcântara Machado

Mana Maria

"Mana Maria" foi o único romance escrito por Alcântara Machado em edição avulsa. Mana Maria é uma mulher solteira que abriu mão de seus sonhos e desejos em nome de uma rotina estafante, cuidando da casa e da família. Assim como nas outras obras, observamos os traços vanguardistas do autor, bem como na criação das personagens e na linguagem do povo da São Paulo dos anos 30, que começava a se tornar uma metrópole industrial.
Antônio Castilho de Alcântara Machado d'Oliveira, nascido em São Paulo no ano de 1901, foi jornalista, político e escritor brasileiro. Apesar de não ter participado da Semana de 1922, Alcântara Machado escreveu diversos contos e crônicas modernistas, além de um romance inacabado. Morreu no Rio de Janeiro, em 1935.

Análise do conto Gaetaninho


Em linhas gerais, observamos na obra de Alcântara Machado, como traços mais característicos, o uso da pontuação como recurso de reprodução de traços rítmicos e melódicos da linguagem coloquial.  Outra característica fundamental é o uso de expressões italianas para marcar a influência da imigração e da miscigenação racial na constituição da sociedade paulistana.
Em Gaetaninho, conto de abertura de Brás, Bexiga e Barra Funda, há uma divisão do conto em cinco cenas, característica notadamente cinematográfica, dada pelo corte narrativo existente de uma cena para outra, introduzindo uma nova situação, em um tempo e espaço também novos. Essa superposição de cenas compõe o todo como uma colagem, como se o narrador estive com uma câmera fotografando cena por cena.
Um dos recursos utilizados pelo autor para ilustrar a ação do personagem é a linguagem radiofônica. Como se fosse um locutor esportivo, o narrador descreve:

“O Nino veio correndo com a bolinha de meia. Chegou bem perto. Com o tronco arqueado, as pernas dobradas, os braços estendidos, as mãos abertas, Gaetaninho ficou pronto para a defesa.
- Passa pro Beppino!
Beppino deu dois passos e meteu o pé na bola. Com todo o muque. Ela cobriu o guardião sardento e foi parar no meio da rua.
- Vá dar tiro no inferno!
- Cala a boca, palestrino!
- Traga a bola!” [10]
           
O ambiente da trama é constituído por traços leves, demonstrando uma certa preocupação jornalística, mas que, no entanto, consegue identificar perfeitamente a condição sócio-econômica das personagens, como na passagem:

“Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho.” [11]

Ainda neste trecho, notamos um certo valor social presente no desejo de Gaetaninho de andar de automóvel e ser admirado pelas pessoas, valor que talvez fosse associado como representação da elite, do status econômico.

“Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e matou.
No bonde vinha o pai do Gaetaninho.
A gurizada assustada espalhou a noticia na noite.
- Sabe o Gaetaninho?
- Que é que tem?
- Amassou o bonde!
A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras.
Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boléia de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia no da frente dentro de um caixão fechado com flores pobres por cima. Vestia a roupa marinheira, tinha as ligas, mas não levava a palhetinha.
Quem na boléia de um dos carros do cortejo mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da gente era o Beppino”[12]

O final do conto é surpreendente, tanto pela rapidez com que se dá a morte de Gaetaninho, quanto pela ambigüidade causada pela frase “Amassou o bonde”. Tomando-se o sentido do verbo amassar em português e sabendo que em italiano ammazzare significa matar, permite uma dupla interpretação do trecho final, já que não se sabe se foi o garoto que atropelou o bonde ou contrário, o que garante, para um final que parecia ser trágico, um caráter cômico.

                 Apólogo Brasileiro sem Véu de Alegoria - Alcântara Machado



Apólogo Brasileiro sem Véu de Alegoria









Encontrar obras de Alcantara Machado para ler online:

http://www.biblio.com.br/conteudo/alcantaramachado/molduraobras.htm

Obras

Enfim, agora vamos ressaltar as obras publicadas por ele:  

Suas Obras
·         Pathé-Baby (1926), crônica de viagem
·         Brás, Bexiga e Barra Funda (1927), contos
·         Laranja da China (1928), contos
·         Mana Maria (inacabado), romance
·         Cavaquinho e saxofone (1940, póstuma), crônicas e ensaios

Traduções
·         Pathé-Baby, prefacio de Oswald de Andrade, estampas de Paim, tradução em francês, notas e posfacio de Antoine Chareyre, Paris, Editions Pétra, coleção "Voix d'ailleurs", 2013, 272p.

Veja um trecho do livro “Brás, Bexiga e Barra Funda”:

Gaetaninho 

— Xi, Gaetaninho, como é bom!
Gaetaninho ficou banzando bem no meio da rua. O Ford quase derrubou e ele não viu o Ford. O carroceiro disse um palavrão
e ele não ouviu o palavrão.
— Eh! Gaetaninho! Vem pra dentro.
Grito materno sim: até filho surdo escuta. Virou o rosto tão feio de sardento, viu a mãe e viu o chinelo.
— Súbito!
Foi-se chegando devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do chinelo parou.
Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita. Mas deu meia volta instantânea e varou pela
esquerda porta adentro.
Eta salame de mestre!
Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de
casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho.
O Beppino por exemplo. O Beppino naquela tarde atravessara de carro a cidade. Mas como? Atrás da tia Peronetta que se
mudava para o Araça. Assim também não era vantagem.
Mas se era o único meio? Paciência. 

              

                 Vida e obras:Antônio Castilho De Alcântara Machado

                   


Em 1901, nascia em São Paulo um dos maiores escritores da literatura brasileira: Antônio Castilho de Alcântara Machado d’Oliveira (Alcântara Machado).
 Sua primeira critica literária foi publicada para o ‘’Jornal do comercio’’ isso enquanto cursava a sua faculdade de direito, após esse fato ele passou a ser o redator chefe e colaborar para o jornal. Mesmo formado ele não exerceu profissão, preferia atrelar-se a carreira jornalística, nessa mesma época os movimentos modernistas na literatura começavam a se despontar com a “Semana de Arte Moderna”, da qual o escritor não participou. Ele aderiu ao movimento depois de tornar-se amigo de Oswald de Andrade, que o tornou um dos nomes mais significativos da prosa da Geração de 22.


Começou na literatura primeiramente falando de pumas ao escrever críticas de peças de festas para o jornal. No ano de 1925, viajou à Europa, onde já estivera quando criança, e de onde se inspirou para escrever crônicas e reportagens que viriam a dar origem ao seu primeiro livro "A volta dos que não foram , Pathé-Baby (primeiramente publicado em 1926), o qual recebeu um livro de historinhas de bebê Oswald de Andrade, este que estreitava os laços de amizade com Alcântara.
O movimento modernista no Brasil contou com duas fases: a primeira foi iniciada em  1922 e seu terminio foi  1930 e a segunda de 1930 a 1945, a primeira fase caracterizou-se pelas tentativas de solidificação do movimento renovador e pela divulgação de obras e ideias modernistas.
Os escritores de maior destaque dessa fase defendiam estas propostas: reconstrução da cultura brasileira sobre bases nacionais; promoção de uma revisão crítica de nosso passado histórico e de nossas tradições culturais; eliminação definitiva do nosso complexo de colonizados, apegados a valores estrangeiros.Posto que  todas elas estão relacionadas com a visão nacionalista, porém crítica, da realidade brasileira. Esses movimentos representavam duas tendências ideológicas distintas, duas formas diferentes de expressar o nacionalismo.O movimento Pau-Brasil defendia a criação de uma poesia primitivista, construída com base na revisão crítica de nosso passado histórico e cultural e na aceitação e valorização das riquezas e contrastes da realidade e da cultura brasileiras.
A Antropofagia, a exemplo dos rituais antropofágicos dos índios brasileiros, nos quais eles devoram seus inimigos para lhes extrair força, Oswald propõe a devoração simbólica da cultura do colonizador europeu, sem com isso perder nossa identidade cultural.
Em oposição a essas tendências, os movimentos Verde-Amarelismo e Anta, defendiam um nacionalismo ufanista, com evidente inclinação para o nazifascismo.
Dentre os muitos escritores que fizeram parte da primeira geração do Modernismo destacamos Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, Ronald de Carvalho e Guilherme de Almeida.
Em 1922 ocorreu a Semana de Arte Moderna que ficou considerada como o ponto inicial do modernismo.Fazendo uma mistura dos artistas de São Paulo e do Rio de Janeiro a Semana como também é conhecida ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro no Teatro Municipal de São Paulo. O evento contou com apresentação de conferências, leitura de poemas, dança e música.Esse movimento foi liderado por um grupo de cinco pessoas integrado das pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral e pelos escritores Mário de Andrade,Menotti del Picchia e Oswald de Andrade.
Os modernistas ridicularizavam o parnasianismo, movimento artístico em voga na época que cultivava uma poesia formal. Propunham uma renovação radical na linguagem e nos formatos, marcando a ruptura definitiva com a arte tradicional. Cansados da mesmice na arte brasileira e empolgados com inovações que conheceram em suas viagens à Europa, os artistas romperam as regras preestabelecidas na cultura.Os participantes da Semana de 1922 causaram enorme
polêmica na época.sua influência dobre as artes atravessou todo o século XX e pode ser entendida até hoje.